Uma fotografia

turco
Fotografia de Burhan Ozbilici

Nota prévia: reproduzo a fotografia tal como é apresentada no sítio digital do Diário de Notícias (vénia ao cuidado que o jornal teve), que dela retira o cadáver do diplomata russo assassinado. Bem diverso do que fazem outros jornais (por exemplo o Público), e tantos outros o fazem agora e fizeram antes.

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Entre a imprensa internacional e, depois, nas redes sociais correu uma boa onda, a de não publicar fotos dos terroristas integristas islâmicos, de modo a não acicatar as tendências martirolófilas. Nem, também, das suas vítimas – e aqui se levantando a velha, e bem anterior, questão dos diferentes tratamentos às vítimas, o recato dado às europeias ou eurodescendentes, o explicitar das excêntricas, em particular se africanas ou asiopauperizadas. As pessoas nem percebem, mas nisso se veicula uma hierarquização da individualidade, do direito/aspiração à intimidade na morte e/ou no sofrimento.

Tudo isso foi esquecido aquando deste atentado na Turquia. O turco assassino e o russo assassinado, corajosamente fotografados por Burhan Ozbilici (o fotógrafo aparenta estar de pé, caramba!, cojones de aço). Aquando dessa vaga de partilhas aqui resmunguei que era mostra de distraído racismo, de anti-eslavismo, de facto o cadáver é apenas de um russo, como se sub-europeu – e nisto não ponho qualidades positivas no regime de Putin, é mesmo sobre como concebemos imediata e inconscientemente o real que nos bate ao ecrã.

Agora a foto ganha o prémio da World Press Photo, ainda que com polémica. Faço a minha vénia ao premiado Ozbilici, g’anda homem! Mas continuo na minha, o problema não é a foto, é a sua partilha, a sua premiação, o que significa. Fosse o cadáver de um clérigo francês ou de uma activista alemã, por exemplos, não teria havido a partilha global. E o prémio. Mas este é só de um eslavo.

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