Viver com a Incerteza

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Viver com a Incerteza é, grosso modo, a tradução do título do livro de uma antropóloga portuguesa – Inês Hasselberg.

Este livro, fruto da sua tese de dissertação doutoral na Universidade de Sussex, aborda o impacto dos processos de deportação nos indivíduos e famílias que nele se encontram enredados. Numa linguagem clara e comovente, este livro expõe-nos aos receios, angústias, desesperos em que vive gente como nós num contexto de marginalização que os prende num presente sem futuro.

Publicado em Inglaterra pela Berghahn Books, foi este livro que angariou à editora o PROSE Awards de 2017 em Antropologia. Este prémio internacional é atribuído à editora que publicou o melhor trabalho dentro de cada disciplina (the most outstanding work among each year’s entries).É o prémio de maior prestígio internacional, concedido apenas aos melhores no seu campo. Isto significa que Inês Hasselberg é a voz que se deve ouvir em Portugal sobre esta questão tão actual da (e)migração. A nível da Europa assim é considerada, esperemos que “em casa” também o seja.

Este livro, além da sua importância científica, consegue cativar qualquer público, mesmo aquele não familiarizado com o lingo académico. Que seja esta a lição para a academia portuguesa que dele usa e abusa, excluindo com chavões o público em geral. Depois de Sussex e Oxford, Inês Hasselberg está agora em Lisboa, onde as obrigações familiares a retêm, para estudar estas mesmas questões no contexto nacional.

E agora perguntam-me vocês: mazoquéqueste postal tem de relevante? Ah… é que eu deixei o melhor para o fim: a Inês Hasselberg, É MINHA FILHA!

AL

Menstruação tira vinho e não faz pão

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Quem me conhece sabe bem o pavor que tenho por latrinas e não estranha o meu fraquinho pela WaterAid. Visito-lhes o site ocasionalmente e um destes dias deparei-me com este projecto de fotografia, que me fez lembrar um postal que escrevi no maschamba aqui há atrasado.

O meu postal referia-se ao Mali e estas fotos são do Nepal. Do Brasil vem este vídeo educativo. Comum a todos, os mitos discriminatórios.

Quando eu era jovem ouvia o não-laves-a-cabeça, o não-faças-ginástica; em África ouvi diversos tabus associados à menstruação, como fonte de doenças venéreas e maldições sortidas; nas nossas aldeias da Beira era o pão, ou os bolos, que não levedavam se tocados por mulher menstruada, ou a maionese que cortava, se o ambiente era urbano. Mitos que se perpetuam por gerações e que parecem espalhar-se por osmose de tão comuns que são em contextos tão diferentes. Comum a todos a discriminação da mulher no seu período de infertilidade, que nem incubadoras avariadas. Até quando? (suspiro, suspiro)

AL

A publicidade, o racismo e eu

Quando estive na Índia confesso que fiquei chocada com alguns anúncios que vi na TV sobre cremes branqueadores da pele e escrevi sobre isso no maschamba, num postal que desconsigo encontrar. Agora deparo-me com este anúncio chinês símbolo de um racismo aparentemente endémico. Pelo que li, tem levantado celeuma por esse mundo fora. A minha primeira reacção foi incredulidade – como é que neste dia de hoje alguém se atreve a ter tal desplante! Associar ao negro o sujo, o poluto, o conspurcado como se ainda vivêssemos lá nos tempos quando isso era costumeiro. Não teremos “evoluído” nada? Depois indignei-me pelo racismo tão básico e tão óbvio das imagens. Mas depois….

Depois pensei: serei eu a racista? Serei eu a racista (aos gritos na minha cabeça)? Se em vez de um africano sorridente, fosse um qualquer europeu sorridente, sujo de pudim ou assim, como seria o anúncio? Pateta talvez, mas arrancar-me-ia um sorriso. Serei eu a racista?, pergunto-me agora incrédula. Não, descanso-me, o racismo existe para além do olhar de quem o vê.

No mundo ideal, este anúncio seria considerado apenas uma forma básica de humor recebida com nada mais que um sorriso! No mundo ideal nem se atentaria à cor da pele. Mas, no mundo real as pessoas morrem de fome como diria um amigo meu. No mundo real as pessoas são ainda diariamente descriminadas e agredidas por causa da cor da pele com que nasceram. No mundo real o racismo faz parte do nosso quotidiano, queiramos ou não. Por isso este anúncio é inaceitável e eu por isso o condeno.

AL